O arrependimento e a fé são os dois elementos
essenciais da conversão. Envolvem uma “virada contra” (o arrependimento) e uma
“virada para” (a fé). As palavras primárias, no Antigo Testamento, para
expressar a ideia de arrependimento são shuv
(“virar para trás”, “voltar”) e nicham
(“arrepender-se”, “consolar”). Shuv ocorre mais de cem vezes no sentido
teológico, seja quanto ao desviar-se de Deus (1 Sm 15.11; Jr 3.19), seja no
sentido de voltar para Deus (Jr 3.7; Os 6.1). A pessoa também pode desviar-se
do bem (Ez 18.24,26) ou desviar-se do mal (Is 59.20; 3.19), isto é,
arrepender-se. O verbo nicham tem um
aspecto emocional que não fica evidente em shuv;
mas ambas palavras transmitem a ideia do arrependimento.
O Novo Testamento emprega epistrephô no sentido de “voltar-se” para Deus (At 15.19); 2 Co
3.16) e metanoeô/metanoia para a
ideia de “arrependimento” (At 2.38; 17.30; 20.21; Rm 2.4). Utiliza-se de metanoeô para expressar o significado de
shuv, que indica uma ênfase à mente e
à vontade. Mas também é certo que metanoia,
no Novo Testamento, é mais que uma mudança intelectual. Ressalta o fato de uma
reviravolta da pessoa inteira, que passa a operar uma mudança fundamental de
atitudes básicas.
Embora o arrependimento por si só não possa nos
salvar, é impossível ler o Novo Testamento sem tomar consciência da ênfase
deste sobre aquele. Deus “anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que
se arrependam” (At 17.30). A mensagem inicial de João Batista (Mt 3.2), de
Jesus (Mt 4.17) e dos apóstolos (At 2.38) era “Arrependei-vos!” Todos devem
arrepender-se, porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm
3.23).
Embora o arrependimento envolva as emoções e o
intelecto, é a vontade que está profundamente envolvida. Quanto a isso, basta
citarmos como exemplos os dois Herodes. O evangelho de Marcos apresenta o
enigma de Herodes Antipas, um déspota imoral que encarcerou João Batista por
ter este denunciado o casamento com a esposa de seu irmão Filipe, mas ao mesmo
tempo “Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo” (Mc 6.20).
Segundo parece, Herodes acreditava em algum tipo de ressurreição (6.16).
Portanto, possuía algum entendimento teológico. Dificilmente poderíamos
imaginar que João Batista não lhe tenha proporcionado uma oportunidade de se
arrepender.
Paulo confrontou Herodes Agripa II com a própria
crença do rei nas declarações proféticas a respeito do Messias, mas o rei não
quis ser persuadido a tornar-se cristão (At 26.28). Não quis arrepender-se,
embora não negasse a veracidade do que Paulo lhe dizia a respeito de Cristo.
Todos nós precisamos dizer, assim como o filho pródigo: “Levantar-me-ei, e irei
ter com meu pai” (Lc 15.18). A conversão subentende “voltar-se contra” o
pecado, mas igualmente “voltar-se para” Deus. Embora não devamos sugerir uma
dicotomia absoluta entre duas ações (pois só quem confia em Deus dá o passo do
arrependimento), não está fora de propósito uma distinção. Quando cremos em
Deus e confiamos totalmente nEle, voltamo-nos para Ele.
Texto
extraído da obra: “Teologia
Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal”, editada pela CPAD.
Por Daniel
B. Pecota (Portal CPAD)